Festa Cigana no quarto do hospital



O Tomás nasceu no Hospital S. Francisco de Xavier, o mesmo lugar onde dei á luz os irmãos.
Quis o destino que fossemos parar ao mesmo quarto onde estive á nove anos atrás quando nasceu o Martim, ou seja, revisitei o pior quarto do piso.
Este quarto, ao contrário de todos os outros que apenas têm duas camas, recebe quatro mães e respectivos bebés.
Quem já teve a experiência de estar internada numa maternidade pública onde os quartos são partilhados, sabe que não é a experiência mais calma do mundo e é incrivelmente difícil conseguir dormir duas horas seguidas.
A cereja no topo do meu bolo chegou passado um dia neste quarto quando uma mãe de origem cigana de apenas 14 anos chegou a meio da noite para ocupar uma das camas da "camarata".
Logo na manhã seguinte o quarto foi invadido por um grupo de 4 ou 5 pessoas, que sobe o pretexto de lhe irem entregar o saco de roupa se barricaram dentro do quarto a tirar selfies atrás de selfies.
Um dos cavalheiros chegou mesmo a fechar a porta do quarto e ficou a segurá-la para impedir a entrada das enfermeiras.
Com muito esforço, as enfermeiras lá conseguiram que o grupo saísse passado uns animados 40 minutos.
Certo é que por volta das 14 horas, ( hora que supostamente só os pais têm direito à visita), o mesmo grupo voltou ao quarto para consumar a festa!
Por volta das 15 horas estavam cerca de 15 pessoas em roda da cama da rapariga, e em roda da cama é como quem diz em cima, em frente e em todos os lados!!
Cantaram, falaram, vestiram e despiram a bebé vezes sem conta para tirar fotografias enquanto as crianças que os acompanhavam corriam pelo quarto a perturbar as visitas das restantes mães...eu incluída.
As enfermeiras, que todas elas foram um amor, não sabiam bem como lidar com a situação.
Pediam vezes sem conta para sairem, que tanta gente no quarto não fazia bem nem á mãe nem á bebé, eles diziam que sim mas não arredavam pé!
O segurança teve que intervir várias vezes, mas tenho a sensação que eles desciam num elevador e metiam-se logo no do lado pois passado alguns minutos lá estavam eles outra vez!
Sinceramente até eram simpáticos, mas a falta de respeito pelas restantes pessoas no quarto incomodou-me imenso.
Ainda mais quando a mim só era permitido ter duas visitas em simultâneo, mas para aquela menina as regras não se aplicavam.
A mãe de apenas 14 anos não ligava a mínima ao bebé, ao ponto de quando estava sozinha dormir horas seguidas sem dar de mamar nem mudar a fralda. Fui eu que fui alertar as enfermeiras para este facto e a partir daí, sempre que o acampamento não estava montado lá no quarto a bebé era levada para a enfermaria onde era cuidada pelas enfermeiras.
Até á noite estas alminhas invadiram o quarto carregando vários sacos da Macdonalds e comeram os seus menus alegremente,
Consegui depois perceber que o pai da bebé é um primo da mãe 11 anos mais velho, que já era casado e pai de um filho de uma prima dela..bem sei que esta etnia têm tradições milenares mas não consigo deixar de pensar na vida desta miúda.
Nunca foi á escola disse ela, têm 14 anos e provavelmente nem sabe ler nem escrever.
Quando as enfermeiras lhe perguntavam algo, ela respondia apenas e a muito custo : - "não sei" e até todas as informações que eram necessárias para completar o seu processo as enfermeiras tiveram que perguntar á sogra. Ela parecia estar proibida de falar.
Esta miúda que agora é mãe teria uma vida completamente diferente se tivesse nascido numa outra família com oportunidades iguais as minhas...provavelmente não seria uma criança com outra criança nos braços...provavelmente seria mais feliz...nunca saberemos, mas há uma coisa que eu sei, existem tradições que deviam acompanhar os tempos e todas as meninas deveriam ter direito á educação e a poderem sonhar com uma vida melhor.



Comentários

  1. Mas nesse hospital não existe seguranças e controlo de visitas?
    Os meus dois filhos nasceram numa maternidade pública, Maternidade Bissaya Barreto em Coimbra, as visitas são controladíssimas, para entrar tem que se entregar documento de identificação e só são permitidas 2 visitas em simultâneo (incluindo o pai da criança) não há excepções!

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